quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

universos a explorar

Descobertas e desventuras de duas Fênix no fantástico mundo das palavras

As palavras vieram para mudar a minha vida: elas me oferecem novos mundos todos os dias; com elas conquisto e exploro planetas nunca antes imaginados. Elas vêm de mim e para mim -- dão início a situações que modificam o curso do meu cotidiano, sempre tão variado e intenso.
Minha mãe conta que iniciei bem cedo a arte da tarelice e já o fazia com adoração, caprichando na pronúncia e buscando novas palavras. "Barrrrrranco", assim eu falava, adorando o som rascante dos RRs que minha pequena língua produzia. Era tanta vontade que Mamãe teve que ensinar-me logo a ler e, aos 5 anos, já mergulhei no fantástico universo da palavra escrita. Fui precoce à escola e a professora chorou quando mudei de classe, desolada com a partida da pequenina fênix ruiva, que tanto amava a língua e suas letras.

Os livros eram meus paraísos secretos, meus abrigos, minhas viagens. Bebia com fervor cada palavra escrita, admirando a habilidade com que os grandes escritores a manuseavam. A escolha da palavra correta, o adjetivo preciso, a construção inesperada, a surpresa do novo vocábulo!
Quem via a moça ruiva, falante e risonha raramente adivinhava sua sensibilidade, seu gosto, seu gozo ante à delicadeza. E vivia duplamente, lépida e alegre no mundo público. E no secreto do meu quarto, o mundo dos meus livros e das minhas músicas estranhas.

A Internet foi a consagração maravilhosa da vida e renascimento da palavra escrita. Pioneira dos chats, reconhecia de imediato as pessoas atrás da tela do computador, suas naturezas reveladas nas linhas, nas pequenas jocosidades, na informalidade do novo diálogo, veloz e sempre presente. Quantas criaturas maravilhosas eu conheci, quantas neuroses acumuladas, a mais recôndita intimidade revelada entre pontos. Ganhei novos amigos e nova família - e ganho, até hoje - ganho diariamente.

Escrever neste blog traz pequenas transformações - perceber a profundidade de momentos que parecem banais e, depois, traduzi-los em escrita. Pequenas mudanças que reconfiguram toda a forma com que vejo e sinto o mundo e as pessoas, imaginando que depois vão se perpetuar no texto que publico aqui. De repente, estou a pensar no termo mais bonito e mais exato para descrever sentimentos, emoções e sensações. Revivo meus encontros, meus amores, minhas desilusões; resolvo meus conflitos e libero meus desatinos: que este mundo não tenha fronteiras, que tudo seja dito, escrito e sentido. Que a palavra venha revelar o que tentamos, a custo, esconder durante a precária forma que usamos para sobreviver ao sombrio. Que a palavra venha iluminar os grandes ou pequenos acontecimentos que a velocidade da vida moderna atropela.

E é com amor intenso, com paixão, com orgulho incomensurável que eu vejo minha pequena Fênix morena explorar com satisfação o novo e deslumbrante mundo que encontra, a cada livro que lê, a cada bilhete que recebe da Mãe Ruiva, a cada cartinha que escreve para os amigos. É minha querida nascendo e renascendo, constantemente, procurando febril pelo desconhecido e pela poesia que encontra na escolha daquela que já é sua adoração: a palavra.

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